Valor Econômico – 03/06/2011
Para se tornar mais atraente como polo internacional de investimento e negócios, o Brasil precisa promover melhoras expressivas na educação e na infraestrutura física, mas já tem trunfos importantes para alcançar esse objetivo – um ambiente macroeconômico razoavelmente saudável, estabilidade política e institucional bastante consolidada e uma infraestrutura financeira sofisticada. Essas são algumas das principais conclusões de um relatório produzido pela Brain (Brasil Investimentos & Negócios). Elaborado com o apoio do Boston Consulting Group, o documento analisa o desempenho brasileiro em comparação com 13 países (de emergentes como China, Índia e Rússia a desenvolvidos como EUA, Reino Unido e França), em 57 dimensões, distribuídos em sete pilares: ambiente macroeconômico, ambiente institucional, talentos e capital humano, infraestrutura física, infraestrutura financeira, conectividade e imagem.
Para o diretor-executivo da Brain, Paulo Oliveira, o ponto que requer mais atenção é a educação. Se não investir na qualificação de mão de obra, o Brasil pode deixar de aproveitar as oportunidades de investimento que aparecerão nos próximos anos. De 11 pontos analisados pelo relatório no pilar Talentos e capital humano, o Brasil fica em último lugar em quatro, na comparação com os outros 13 países: qualidade do ensino básico, alinhamento do ensino superior com o mercado, internacionalização de estudos e disponibilidade de gestores e engenheiros de qualidade.
Oliveira destaca, em seguida, a importância de o país focar na melhora da infraestrutura física para se tornar um polo relevante de investimento e negócios. A boa notícia é que, nesse setor, a possibilidade de obter avanços concretos é muito mais rápidos do que na educação, ressalta ele. No relatório da Brain, o Brasil aparece em penúltimo lugar no quesito mobilidade urbana, à frente apenas da Índia. No item qualidade de transporte aéreo, o país só supera a Rússia.
O executivo ressalta, porém, que o país dispõe de várias qualidades para se tornar o polo de investimentos e negócios mais importante da América Latina. No caso do ambiente macroeconômico, o crescimento mais forte nos últimos anos, a estabilidade monetária e a baixa volatilidade econômica ajudam a atrair investidores. Há pontos a melhorar, como a distribuição de renda, a pior entre todos os países que aparecem no estudo, mesmo com os avanços recentes.
“Outro trunfo importante é a estabilidade política e institucional do Brasil”, diz Oliveira, destacando que, nesse campo, o país está bem à frente de competidores como China, Índia e Rússia. Mesmo no ambiente institucional, porém, também há aspectos que vão mal. O mercado de trabalho é pouco flexível, e o país fica na lanterninha no quesito que mede a facilidade para as empresas pagarem impostos.
A infraestrutura financeira, por sua vez, é mais ponto do qual o Brasil pode tirar vantagem. O país conta com uma regulação eficaz e uma ampla disponibilidade de serviços financeiros. Falta, porém, desenvolver um mercado de títulos privados de prazos mais longos, destaca Oliveira. “O objetivo da Brain é fazer um diagnóstico, mas também fazer uma chamada para ação”, diz ele. Grupos de trabalho já estão empenhados nessa direção. O relatório será lançado hoje em evento na sede Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio). A Brain tem hoje 13 associados, entre eles a BM&FBovespa, a Anbima (associação do mercado de capitais), a Febraban (federação das associações de bancos), a Fecomercio e mais nove bancos.
Sergio Lamucci | De São Paulo
Deixe um comentário