Valor Econômico – 06/01/2010
Seguindo por uma estrada de pista simples e interminável planície, cuja monotonia da vegetação rasteira é quebrada apenas por alguns campos de girassóis, o quartel-general do Los Grobo surge em meio a uma plantação de soja. É ali, na minúscula Carlos Casares, a quatro horas a oeste de Buenos Aires e onde seus antecedentes chegaram da Bessarábia há quase um século, que o agrônomo Gustavo Grobocopatel cultiva o plano de fazer uma das empresas argentinas mais bem-sucedidas da atualidade e quase dobrar de tamanho nos próximos três anos – e o carro-chefe dessa expansão é o Brasil.
A holding Los Grobo fatura US$ 700 milhões e espera produzir 2,5 milhões de toneladas de grãos nesta safra 2009/10, em 265 mil hectares de área plantada nos quatro países do Mercosul. Na temporada 2012/13, pretende chegar a US$ 1,3 bilhão de faturamento e 4,5 milhões de toneladas de grãos, em 450 mil hectares cultivados.
“O planeta quer mais proteína e a produção mundial de grãos deverá aumentar 100% nos próximos 30 anos para abastecer essa demanda”, afirma Grobocopatel, que aplicou um novo modelo aos negócios da família em 1984 e se mantém à frente do grupo desde então. “O Mercosul responderá por metade de todo o crescimento. Queremos ter um papel de liderança nesse processo. Estamos em todos os sócios do bloco e entendemos a lógica dos produtores”.
A maior aposta está no Brasil, especialmente no Cerrado – em Goiás e na região do “Mapito” (convergência entre Maranhão, Piauí e Tocantins). Hoje, a Los Grobo produz 800 mil toneladas de grãos em 60 mil hectares de área plantada, além de vender em torno de US$ 50 milhões em insumos no país. A meta é elevar a produção para 1,4 milhão de toneladas, em 150 mil hectares, e vender US$ 100 milhões em insumos em três anos.
Grobocopatel, que atua nos quatro países do bloco quase sempre com parceiros locais – exceto no Paraguai -, considera-se um “empresário do Mercosul”. Mas não esconde que o Brasil ganhará cada vez mais importância nos negócios da empresa e superará a Argentina. “Hoje, 50% do nosso faturamento é na Argentina e outros 30% no Brasil. Em cinco anos, essas proporções estarão invertidas”.
Em 2008, a Los Grobo entrou no país por meio da compra da Ceagro e da Selecta Sementes, em parceria com o fundo Pactual Capital Partners (PCP), hoje Vinci, dos ex-sócios do Banco Pactual. Em troca de um aporte de capital, a Vinci passou a deter 21,56% das ações da holding Los Grobo e 33,3% da subsidiária brasileira. “A Argentina pode usar mais 2 ou 3 milhões de hectares. O Brasil pode crescer mais 30 milhões de hectares, tem fartura de terras disponíveis”, diz Grobocopatel. A diversificação geográfica também reduz os riscos do grupo com problemas climáticos. “Além disso, no Brasil há mais demanda por financiamento, gestão de risco e um tipo de integração vertical que nós oferecemos.”
Grobocopatel se orgulha de comandar uma companhia sem ativos como tratores, caminhões e colheitadeiras. Os investimentos em compra de terras são baixos. A empresa é uma gestora de contratos, o núcleo de uma rede extensa, fazendo a integração vertical da cadeia produtiva. É esse modelo inédito na região, segundo ele, que a Los Grobo quer popularizar no Brasil. Os produtores atuam em parceria, comprando insumos e fazendo contratos de gestão de risco. Também costumam tomar financiamento por meio da Los Grobo, que empresta cerca de US$ 100 milhões por ano. De um lado, a taxa de juros fica mais baixa para o produtor porque o crédito sai por uma grande empresa. De outro, os bancos têm maior garantia de pagamento.
Por meio de serviços terceirizados, a Los Grobo atua ainda na estocagem, processamento, comercialização e distribuição. Sua estrutura é enxuta, com cerca de mil funcionários, e foi objeto de estudo da Universidade do Texas A&M. Pesquisadores da San Andrés, uma das mais importantes universidades argentinas, descreveram-na como “empresa modelo no setor agropecuário, não só pela incorporação de tecnologias de ponta na produção primária, mas também pela implementação de uma inovadora organização empresarial em forma de rede social e por forte participação em projetos de responsabilidade social”. “É um modelo muito bem-sucedido”, reforça Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura do Brasil e interlocutor dos Grobocopatel no país.
“A vantagem de terceirizar é não desperdiçar recursos e se distrair com produtos e serviços em que não somos especialistas”, acredita Grobocopatel. “Se o produtor perde tempo com o hedge de [bolsa de] Chicago, com o frete rodoviário ou com o financiamento do banco, ele não se dedica ao principal, que é plantar, cultivar e colher”. Segundo ele, há uma relação de benefício mútuo, o que explica a taxa de renovação dos contratos entre a Los Grobo e produtores rurais – são cerca de 5 mil no total, 3 mil na Argentina -, acima de 90% por ano.
A soja, para a qual Grobocopatel prevê cotação entre US$ 360 e US$ 400 a tonelada na média para 2010, representa 60% da produção atual. Os negócios abrangem trigo, milho e girassol. No caso do trigo, o grupo tem dois moinhos próprios e dois arrendados na Argentina. Produz 200 mil toneladas anuais de farinha de trigo e destina 50% disso ao Brasil. Outras 30 mil toneladas são produzidas em um moinho alugado em São Paulo.
Por enquanto, não há nenhum plano de abrir o capital da holding ou de suas subsidiárias. Mas o empresário não descarta essa possibilidade para o futuro. “Para sermos uma empresa global, precisamos antes crescer na região. Queremos ser a Cargill do Mercosul”, brinca.
Daniel Rittner, de Carlos Casares (Argentina)
HAHAHAHAHAHA… Esta é a melhor piada do ano…